Quando o “aproveitamento de pasto” é mencionado, os pensamentos normalmente são direcionados a uma coisa. Ou considerar que uma parte deste está sendo perdida, ou deixando de ser aproveitada.
É muito comum entre os produtores acreditar que para melhorar a eficiência da área não deve haver qualquer sobra de pasto. Assim evitando ao máximo o acúmulo de forragem restante. Dessa forma, diversos pecuaristas trabalham com taxas de lotação muito acima da capacidade suportada pelo pasto, resultando em um dos principais problemas do cenário nacional: o super pastejo, ou superlotação.
Em busca de compreender o real conceito de total aproveitamento do pasto, possibilitando um novo olhar sobre diferentes formas de manejo, as culturas forrageiras devem ser conhecidas mais afundo. A partir de suas particularidades, possibilitam, ao produtor, um melhor entendimento dos processos de produção envolvidos. Podendo acarretar um pasto mais nutritivo e saudável para o rebanho, e, consequentemente, uma atividade mais lucrativa e sustentável.
Identificou-se com essa situação e deseja entender como ter melhor aproveitamento de pasto? Confira este conteúdo!
Ciclo de vida das plantas forrageiras
O termo “perdas de forragem” pode causar uma errônea interpretação, por exemplo quando as partes consumíveis das plantas forrageiras não são aproveitadas pelo gado. Em áreas onde a pastagem, em forma de matéria seca, não é consumida, haverá senescência, isto é, morte da planta, apresentando um aspecto seco.
Essa, então, passa a constituir a fração de material morto da pastagem, estabelecendo a clássica relação entre acúmulo de material morto e perdas de nutrientes para o rebanho.
Tendo isso em mente, pode-se afirmar que em muitas propriedades rurais a dinâmica dos processos de crescimento, senescência e consumo pelo gado das plantas forrageiras, as quais operam continuamente em um ciclo de crescimento e corte dentro de propriedade produtora, não é considerada. Todo este conceito de transferência de energia no ciclo das forrageiras pode ser representado simplificadamente na imagem abaixo:
Quanto à imagem acima, pode-se concluir que a planta forrageira se comporta de maneira similar a qualquer vegetal. Ou seja, captando luz solar para realizar seus processos bioquímicos, bem como água e nutrientes do solo para se desenvolver. Esses fatores irão apresentar alterações frente às diferentes espécies forrageiras.
Além disso, é de suma importância ressaltar que a forma de manejar o pasto impactará diretamente no resultado final. Assim, o planejamento de todas as atividades pode garantir maior produção de biomassa e, consequentemente, facilitar a engorda do rebanho.
Exemplo disso é o conhecimento sobre as peculiaridades entre o manejo de uma pastagem de inverno (época das secas) e o de uma pastagem de verão (época das águas). Dentro desses, pode-se citar, ainda, o momento correto de entrada dos animais no pasto, este representando pela altura da forrageira. Como também de saída dele, possibilitando uma boa capacidade de rebrota para o próximo ciclo.
Taxa de Lotação de Pasto
Quanto à prática, ao trabalhar com sistemas de produção animal, as técnicas de avaliação dos pastos devem ser consideradas com base nos termos de produto por animal e produto animal por unidade de área.
Desta forma, os ganhos de peso diário, bem como o ganho de peso por animal em determinado período, mensuram o produto por animal em termos individuais. A produção de carne por área, ao longo desse mesmo período, representa o produto animal por unidade de área.
Tais valores estimam os benefícios reais obtidos por diferentes pastagens, permitindo a sua comparação. Como a lotação é o número de animais por unidade de área, dado em UA/ha, e a pressão de pastejo é o número de animais por unidade de forragem disponível, a capacidade de suporte pode ser definida como a lotação ideal. Ou seja, o número de animais por hectare que não prejudicará o desempenho da forrageira, resultando em uma ótima pressão de pastejo.
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Eficiência de Colheita e de Utilização de Pasto
Estes dois termos são comumente confundidos, e até desconhecidos, porém são essenciais para definir o aproveitamento do pasto e para as tomadas de decisões quanto ao manejo em uma propriedade.
A eficiência de colheita pode ser definida como a proporção da forragem acumulada que é consumida pelos animais em pastejo. Os termos eficiência de colheita e de pastejo são sinônimos, sendo muito utilizados por produtores rurais como critério para o manejo.
Já a eficiência de utilização refere-se ao produto animal (massa corporal) acumulado em relação à quantidade de forragem consumida. Este fator que representa a conversão de forragem em ganho de peso do rebanho.
A relação oposta entre esses dois parâmetros é observada quando a intensidade de pastejo é baixa, devido à baixa taxa de lotação. Assim, a oferta de forragem por animal é elevada, sendo que, nesta condição, o animal tem a capacidade de selecionar o alimento. E, por fim, colhe partes mais digestíveis e tem-se uma dieta mais rica em nutrientes e de melhor qualidade. Isso resulta em uma melhor resposta quanto ao ganho de peso, pois a conversão alimentar é maior. Assim, necessitando menor quantidade de forragem para produzir uma unidade de produto animal.
Por outro lado, quando a taxa de lotação é baixa, a ingestão de forragem por unidade de área é reduzida, e, consequentemente, a eficiência de colheita é menor. Isso pode resultar na ingestão das gemas apicais das plantas forrageiras, as quais são responsáveis pela rebrota. Isso implicaria em uma deficiência de biomassa para o próximo ciclo, induzindo o produtor a tomar medidas de restauração de alto custo operacional.
Do ponto de vista do aumento da intensidade de pastejo, ocorre uma diminuição da quantidade de forragem disponível, ocasionada pela grande quantia de animais por unidade de área. Isso acarreta um menor ganho de peso por animal, porém, mesmo assim, esse sistema responde com uma alta eficiência de colheita. Resultando em um efeito compensatório pelo ganho em quantidade total, e não mais individual.
Dimensionamento dos piquetes
O número ideal de animal por área, também conhecido como taxa de lotação, irá depender muito das características do manejo e do pasto. Dessa forma, o tamanho dos piquetes irá variar em função do número de animais, da oferta de forragem, do período de ocupação e da área total disponível para o sistema.
Para o dimensionamento das áreas dos piquetes, deve-se levar em consideração a disponibilidade de forragem, ou seja, a área útil, a qual será efetivamente utilizada pelos animais. Nas áreas de maior declividade, recomenda-se dimensionar piquetes de maiores áreas, com o intuito de promover maior deslocamento dos animais, evitando quedas e possíveis injúrias. Em relação à forma dos piquetes, orienta-se a escolha de formas quadradas ou retangulares, com a largura mínima igual a um terço do comprimento (PEREIRA, 2019).
Para garantir excelente padrão de engorda no rebanho, além de um pasto com excelente qualidade, recomenda-se proporcionar boas condições de conforto para o rebanho. Utiliza-se o termo conhecido como “bem-estar animal”. Dessa forma, além de fornecer um pasto de qualidade, deve-se pensar também na disposição de todos os itens na fazenda.
Corredores, bebedouros, cochos para saleiros ou para suplementação e áreas de descanso devem ser planejados e inseridos na propriedade de forma a reduzir o percurso e tornar o mais cômodo possível a vivência dos animais. Em áreas onde o relevo apresentar maior inclinação, recomenda-se que os corredores sejam projetados de forma a cortar o declive, semelhante às curvas de nível, com o objetivo de evitar a erosão e amenizar o esforço dos animais (PEREIRA, 2019).
O sistema de pastejo com lotação rotacionada nos piquetes que apresenta maior eficiência produtiva e econômica é aquele que adota uma área de descanso (do piquete que acabou de ser pastejado). Nesta área são alocados os bebedouros e cochos saleiros, com livre acesso dos animais em relação ao piquete que estão utilizando. Dependendo do tamanho dos piquetes e da área da fazenda que está sendo destinada para a atividade, pode existir de uma a várias áreas de descanso (PEREIRA, 2019).
Segundo Pereira (2019), existem dois tipos de manejo do pasto: o pastejo contínuo (lotação contínua) e o pastejo rotacionado (lotação rotacionada). Os demais são métodos que derivam do pastejo rotacionado, como o pastejo alternado, pastejo diferido etc. Tais sistemas de pastejo estão representados na figura abaixo.
Entendendo melhor o comportamento das plantas forrageiras
A pastagem, como qualquer outra cultura vegetal, apresenta suas particularidades. Dentro do seu ecossistema, podemos encontrar componentes bióticos (plantas, animais etc.) e abióticos (solos, radiação, clima etc.). O equilíbrio desses fatores dependem da sustentabilidade de todo o sistema.
Como já abordado anteriormente, as plantas possuem cadeia de energia em todo o seu ciclo produtivo. Dessa forma, fatores abióticos, como a eficiência da absorção da energia luminosa (conversão de energia para a planta), presença de pragas e doenças, precipitação, velocidade do vento, entre outros, implicarão grandemente no resultado final de geração de biomassa.
Altura da forrageira e interceptação luminosa
Adentrando no conceito do papel da radiação solar para o sucesso do funcionamento de todo o sistema, podemos destacar a interceptação luminosa (IL). Ela resume-se no resultado da incidência de raios solares por unidade de área foliar da forrageira.
Esse fator pode ser medido e correlacionado com a altura da planta. Asim, garantindo ao produtor um “norte” sobre o momento ideal na condução da entrada e saída dos animais da área, possibilitando excelente qualidade das plantas. O ponto ótimo de 95% de IL é definido na correlação entre produção e qualidade da forragem, que em termos práticos é expresso na altura da planta no campo.
O momento recomendado para a entrada e saída do pasto para algumas espécies forrageiras está representado na figura abaixo.
Eficiência da forrageira e digestibilidade
Sobre o conceito de qualidade da forragem seca que será fornecida para o animal, podemos destacar o fator da digestibilidade das partes da planta. Quanto maior for esse índice, melhor será a eficiência e utilização da microbiota ruminal, resultando em maior extração de nutrientes e, consequentemente, maior ganho de peso corporal. A digestibilidade de uma forragem pode ser aferida medindo-se os valores de NDT (nutrientes digestíveis totais), FDN (fibra em detergente neutro), degradabilidade de MS (matéria seca), entre outros.
Outra questão importante refere-se ao mito relacionado com a boa eficiência agronômica que algumas espécies forrageiras apresentam no campo. É essencial ter em mente que não existe a espécie forrageira ideal e “milagrosa”. Um bom exemplo disso é o bom rendimento agrícola do capim Mombaça cultivado em solos com alta fertilidade.
Para que consiga explorar a máxima capacidade do seu sistema, de forma sustentável, é de suma importância conhecer as características da sua região (clima e solo) e correlacioná-las com a espécie forrageira mais favorecida em seu sistema de condução dos animais. A tabela abaixo mostra algumas espécies forrageiras de acordo com a exigência nutricional de cada uma:
Como já abordado, um outro fator importante na escolha da espécie forrageira para sua área consiste na adaptabilidade da mesma nas condições de sua localidade. Por exemplo a capacidade de se desenvolver em diferentes condições de excessiva umidade do solo, bem como gerar uma boa cobertura do solo (PEREIRA, 2019).
Pereira (2019) recomenda, em áreas sujeitas a alagamento, a utilização de capins como braquiária-de-brejo, capim-bengo, humidicola e estrela africana, variando com o nível de tolerância.
Nas áreas com topografia muito acidentada, recomenda-se a manutenção de vegetações de reserva permanente, devido ao alto risco de erosão e inviabilidade da atividade por risco de queda dos animais. Já em relevos medianamente acidentados, orienta-se o plantio de forrageiras estoloníferas/decumbentes como é o caso de alguns capins dos gêneros Brachiaria (decumbens e humidicola) e do Cynodon (coastcross, tifton) (PEREIRA, 2019).
Conclusão
Em suma, existem inúmeros fatores que devem ser considerados para que o produtor tenha um excelente aproveitamento de sua pastagem, como a análise correta de sua área, escolha da espécie mais apta para sua região, a manutenção da qualidade nutricional do solo, o bom planejamento da entrada e saída dos animais, entre muitos outros.
Além disso, aconselha-se lembrar que uma maior taxa de lotação não necessariamente garantirá que você consiga uma maior produção, bem como uma maior oferta de alimento pode não representar desperdícios, mas sim, gerar bem-estar e ganho de peso do seu rebanho.
Escrito por Fábio Zamorano e Matheus Rebouças Pupo
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