Panorama atual da caprinocultura a pasto e confinamento no Brasil
Segundo dados do ano de 2019 do IBGE, mais de 90% do rebanho brasileiro de caprinos e ovinos se encontram na região nordeste do país. Durante o período de 2017 – 2019 o setor apresentou um crescimento de 36,8% em seu rebanho, entretanto a pandemia afetou bastante esse aumento, visto que as projeções futuras estão bastante insertas devido à queda do consumo de carneiro pela população. Esta queda pode ser analisada pelo estudo realizado pela EMBRAPA (2020) durante a pandemia em que muitos produtores relataram uma queda de 50% na procura pelos produtos do animal.
O país sofre bastante com a falta de coordenação e cooperação da cadeia produtiva. Podendo ser observado ao se deparar com a produção brasileira, que está concentrada em alguns polos em que ocorre esta integração entre os produtores e as usinas beneficiadoras de leite ou então aos frigoríficos, destacando-se as regiões de Cariri Paraibano, Agreste e Sertão Pernambucanos, que é considerada a maior bacia leiteira do país, além do estado de Minas Gerais que concentra 0,68% do rebanho nacional, porém produz cerca de 15% do total de leite produzido no país. Esse cenário também e observado na caprinocultura de corte, na qual a comercialização de carne é fiscalizada e bastante organizada nas cidades de Caruaru e Tauá no Ceará e a região do Vale do Jacuípe e Juazeiro na Bahia, sendo que nas demais regiões acabam ocorrendo muitos abates clandestinos.
Porém muitos pesquisadores observam que o cenário futuro do setor no Brasil pode ser bastante otimista, visto que o país possui manejo, tecnologia, conhecimento e genética para crescer, e se isto for aplicado nas fazendas junto aos profissionais qualificados que a nação possui, a produção tem tudo para aumentar em grande quantidade, e isto aliado ao mercado que a área possui representaria o sucesso do setor.
Caprinocultura a pasto x confinamento
Um importante aspecto que se deve levar em consideração quando se compara a caprinocultura a pasto com a em confinamento, é que não há um modo ideal para se criar os rebanhos, ambos apresentam suas vantagens e desvantagens. Isto pode ser observado em pesquisas realizadas, em que a criação em confinamento representou um aumento de 60% na produção, porém com um custo 50% maior que a criação a pasto.
Estes sistemas de produção apresentam diferença tanto na produtividade do animal, quanto na qualidade e concentração do produto final a ser ofertado, seja ele leite ou a carne. Isto foi analisado em um estudo realizado pelo Departamento de Produção Animal da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no campus de Botucatu, em que o leite dos animais em confinamento apresenta teores de proteína, gordura e lactose menores, quando em comparação com os que estavam no pasto. Isto ocorre devido à produção maior promovida pelo confinamento. Já em relação ao corte, a pesquisa apontou que a carne dos animais em confinamento apresentou melhor distribuição de gordura, o que facilita a venda para o cliente final, além de resultar em uma carcaça maior.
Deste modo, como já destacado anteriormente, ambas as produções tem seus benefícios e obstáculos, que se apresentam desde o custo de operacionalização, área necessária para a produção, até a qualidade que será ofertada no produto final a ser vendido ao cliente. Portanto para melhor compreendimento, iremos listar os principais vantagens e desvantagens.
Vantagens e Desvantagens
Pasto
Neste sistema os animais são criados soltos no pasto, não havendo a necessidade de grandes instalações e uso de tecnologias para produção. Por estes motivos são empregados animais com menor exigência nutricional. Com isso as principais desvantagens deste sistema se tornam:
- Baixa produtividade, pouco recomendada para produções comerciais de caprinos;
- Possui riscos de predação;
- Necessita da utilização de grandes extensões de terra.
Para intensificar a produção destes animais a pasto, tornando-a sustentável, recomenda-se que se faça o manejo rotacionado deste pasto. Na qual, se divide a área (pasto) em piquetes e se faz a rotação destes animais por determinado período de tempo pré-definido, como pode ser observado na figura abaixo.
Figura 1 – Ilustração do funcionamento do rotacionamento dos piquetes.
Fonte: Carpes (2020).
O tempo indicado para a troca destes piquetes pode variar de acordo com a espécie de capim e a época do ano, já que durante o período das chuvas se obtém maior crescimento da pastagem. A tabela abaixo um possível manejo a se aplicar na época das chuvas.
Tabela 1 – Sugestão de manejo para o pastejo rotacionado com ovinos e caprinos, na época das “águas” em pastagens intensificadas.
Gramínea | Período de descanso | Altura de entrada | Altura de saída |
(Dias) | (cm) | (cm) | |
capim-Tanzânia | 30-35 | 70 | 20-30 |
capim-aruana | 30-36 | 40-50 | 10-20 |
capim-braquiária | 28-32 | 25-30 | 10-15 |
capim-coast-cross ou capim-Tifton | 20-25 | 25-30 | 10-15 |
Fonte: Adaptado de NEPPA (2005).
Esta rotação apresenta diversas vantagens, sendo as principais:
- Diminuição do risco que os animais comam os brotos e destruam a pastagem;
- Fornece descanso para que a pastagem cresça, já que em quanto os animais estão no piquete, a outra área está “descansando”;
- Maior controle dos animais;
- Maior controle da produção das pastagens;
- Diminuição da contaminação por vermes.
Confinamento
Neste sistema intensivo, os caprinos permanecem em currais que possuem área restrita, no qual a água e os alimentos necessários para que o animal produza leite ou ganhe peso serão fornecidos em cochos. Este sistema possui algumas desvantagens, como:
- Alto investimento com a estrutura necessária para abrigar estes caprinos;
- Alto custo com alimentação, o que encarece bastante a produção quando ocorre um aumento nas rações, como está ocorrendo atualmente;
- Maior demanda de mão de obra, além da necessidade de ser mais qualificada.
Figura 2 – Criação de caprinos no sistema de confinamento.
Fonte: Lima (2020).
Porém traz grandes benefícios, principalmente quando não se tem grandes áreas para pasto. Dentre as principais vantagens, estão:
- Maior produtividade por animal;
- Uma maior produção por área, visto que se emprega o uso de tecnologias para a produção do alimento, desta forma, consegue-se colocar um número maior de animais em uma área menor;
- Maior prevenção de doenças e tratamento mais rápido quando ocorrem, isto ocorre já que é possível realizar um melhor acompanhamento do animal.
Criação de caprinos a pasto e confinamento
Neste sistema de produção ocorre a integração da criação de caprinos a pasto e no confinamento. Ocorre de duas formas principais, podendo ser uma integração no mesmo período de criação, e a outra ocorrendo quando um animal que fez a fase de cria a pasto vai para o confinamento a partir da recria, também podendo ocorrer apenas na fase de engorda.
Quando ocorre da primeira forma citada, os caprinos são soltos no período da manhã (o que faz com que se diminua a contaminação por larvas de vermes), e presos novamente na parte da tarde, passando assim a noite em um ambiente fechado. Este sistema traz como principais vantagens, uma melhora na produtividade, melhor controle sanitário e zootécnico do rebanho, além de diminuir o risco por predação. Entretanto, possui como desvantagem a necessidade de uma estrutura, já que necessita da construção de abrigos com comedouros e bebedouros, além de cocho e das cercas para realizar a divisão dos piquetes.
Pelo confinamento possuir um alto custo para se obter uma produção mais elevada, os profissionais da área recomendam que o cabrito só entre neste sistema quando estiver em engorda para abate ou cabritas para recria, já que será neste período que o animal necessitará de maior quantidade de alimento, aliado ao maior retorno produtivo. Portanto, é recomendável que fazendas que adotem o confinamento realizem, sempre que possível, este sistema apenas para os casos descritos a cima e as demais etapas a pasto. Para que desta forma se obtenha um lucro maior.
Qual sistema adotar?
Em suma, caso ainda esteja com dúvida se deve realizar a criação de caprinos a pasto ou confinamento, é importante ressaltar que não existe modelo ideal para criação, ou seja não existe melhor nem pior, ambos possuem suas vantagens e desvantagens. Sendo assim é importante que o produtor tenha uma visão holística, verificando as condições de sua fazenda e a quantia disponível para investir, sendo assim, deve-se adotar o sistema que melhor se encaixe em seu perfil, podendo até mesmo, adotar os dois sistemas caso seja a melhor opção.
Referências bibliográficas
CANAL RURAL. Pesquisa compara produção de caprinos de forma confinada ou extensiva. 2019. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/noticias/pesquisa-compara-producao-caprinos-forma-confinada-extensiva-42441/. Acesso em: 13 abr. 2022.
FARMIN. Otimizar produção de Ovinos – Manejos Práticos de Pastagem. 2019. Disponível em: https://www.farmin.com.br/manejo-de-pastagens/. Acesso em: 15 abr. 2022.
LIMA, Magna Coroa. Caprinos: como escolher o sistema de produção? 2020. Disponível em: https://www.vetprofissional.com.br/artigos/caprinos-como-escolher-o-sistema-de-producao. Acesso em: 17 abr. 2022.
SENAR. Caprinocultura: criação e manejo de caprinos de corte. 2020. Disponível em: https://www.cnabrasil.org.br/assets/arquivos/267_Caprinocultura_criacao-e-manejo-de-caprinos-de-corte.pdf. Acesso em: 14 abr. 2022.
VOLTOLINI, Tadeu Vinhas et al. Principais modelos produtivos na criação de caprinos e ovinos. 2017. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/54797/1/09-Principais-modelos-produtivos-na-criacao-de-caprinos-e-ov.pdf. Acesso em: 15 abr. 2022.