Entenda os impactos da alta do petróleo no preço da cana-de- açúcar

A Relevância do Etanol para o mercado nacional da Cana-de-Açúcar 

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, cultura de grande importância para o agronegócio e a economia nacional. Isso posto, segundo dados do último Boletim Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), referente a temporada 2020/21, a estimativa é que sejam colhidas 665,1 milhões de toneladas do produto. 

A cana-de-açúcar é considerada uma das grandes alternativas para o setor de biocombustíveis devido ao grande potencial na produção de Etanol e seus respectivos subprodutos. Assim, estima-se que cerca de 2%  do total de terras cultiváveis do Brasil estejam vinculadas à produção de Etanol. 

Desse modo, segundo o Boletim Safra (Conab), a estimativa total de produção de Etanol a partir da cana-de-açúcar no ano passado foi de 29,8 bilhões de litros. Assim, conhecer as dimensões desse cenário é importante para compreender também como a demanda do produto interfere no valor comercial da cana-de-açúcar, e, por conseguinte, no mercado nacional.

Gráfico 1- Evolução da produção de etanol total a partir da cana-de-açúcar

Fonte: Conab

O preço do Petróleo no mercado internacional e o impacto em seus combustíveis derivados

No início de 2020, o mundo sofreu com a desvalorização dos preços internacionais do petróleo, em razão da ampliação da oferta no contexto da disputa comercial entre Rússia e Arábia Saudita. Assim, a forte queda dos preços do barril, por sua vez, impactou diretamente o valor de seus derivados, como a gasolina, fazendo com que o consumo de etanol também fosse abalado.

 Em contrapartida, neste ano, o valor médio do barril do petróleo está no patamar de R$363,68, aproximadamente US$66, sofrendo muitas oscilações; enquanto o preço do dólar atualmente é de R$5,44. Vale ressaltar que estes valores foram desacreditados, pois se esperava outro cenário com a situação pandêmica, no entanto, os preços continuam a subir mesmo na atual conjuntura. Assim, no caso brasileiro, a alta nos custos é duplicada, pois sofre ação direta com a alta da moeda norte-americana.

Somado a isso, no contexto brasileiro, a troca do presidente da petroleira brasileira Petrobras também tende a influenciar na variação deste cenário. Com a queda das ações da instituição no período de fevereiro de 2021 (quando foi anunciada a troca) houve também uma redução no valor do petróleo, e, consequentemente, um impacto no preço da gasolina e dos demais combustíveis.

A relação entre a alta do petróleo e o preço da cana-de- açúcar

Conforme acima apresentado, segundo especialistas, a crescente alta do preço do petróleo contribuirá diretamente para a alavancagem dos preços dos combustíveis concorrentes. Apesar da commodity ser utilizada para a produção de gasolina, o aumento do seu valor influencia o preço do etanol, e, consequentemente, o valor da cana-de-açúcar. 

Acredita-se que o preço do etanol deve ser puxado para cima de acordo com as correções dos valores da gasolina, e, somado a isso, a menor produção entressafra prevista para os próximos meses também contribuirá para esse aumento, tendo em vista a diminuição da oferta e o aumento da demanda. 

Ademais, de acordo com estudos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), quando existe maior margem na cana-energia, as usinas deslocam mais o produto para a produção de etanol, aumentando além do preço do combustível, o custo do açúcar. Em suma, as variações de preço do petróleo influem não só no valor da gasolina, mas também na balança produtiva entre o Etanol e o Açucar, impactando diretamente no preço comercializado dos dois produtos e também no preço da cana-de-açúcar. 

Gráfico 2: Comparação entre a evolução do preço do petróleo e do açúcar, em dólares 

Fonte: IndexMundi

Como esse cenário impacta os produtores da cana-de- açúcar

O impacto direto de todo o cenário para o canavicultor está ligado ao preço que ele irá comercializar seu produto. As usinas brasileiras estão sem preço competitivo, e muitas vezes atrasam o pagamento aos produtores, que já estão sofrendo com a baixa produtividade, principalmente no período de entressafra.

Nessa conjuntura, o etanol pode ser negociado em contrato futuro, garantindo assim uma certa margem para as usinas. Já os produtores se enquadram em outro aspecto, com os preços da tonelada não ideais, e uma razoável estabilização no valor do kg do ATR (açúcares totais recuperáveis), que mede a qualidade da matéria prima possuindo ligação direta no preço que será estabelecido. 

Apesar do cenário conturbado, com preços oscilantes devido a variação do petróleo e a constante guinada do preço da cana sendo obrigada a seguir essa alta, a Raízen, importante referência em bioenergia, está prestes a protocolar, ainda esse semestre, o que deverá ser a maior IPO do ano, isso significa que irá abrir pela primeira vez, a venda de suas ações publicamente. Esse feito poderá incentivar o uso do etanol, ajudando produtores, e tentando garantir uma maior independência do preço da cana e consequentemente do etanol, com relação ao crescimento do petróleo e seus combustíveis.

Pelo fato do etanol ser um combustível renovável, e em um momento com a crescente demanda por energias sustentáveis, acredita-se que existam poucos incentivos para o consumidor final ser atraído pelos benefícios do uso do etanol, que se enquadram tanto no âmbito econômico como no social. Nesse sentido, é importante que o produtor tenha conhecimento também das oscilações do valor do petróleo, uma vez que esse mercado ainda interfere de forma significativa na produção nacional do etanol, e, portanto, nos direcionamentos da produção canavieira. 

Escrito por Vitor Gregório Sierra de Sene e Letícia Maria Cardeal Leonel