Erick Dalmo Gunha Basilio
Que a pandemia de corona vírus causou grande impacto nas cadeias produtivas ao redor do mundo, não é novidade para ninguém, mas o que não se esperava era que o agronegócio brasileiro, não somente conseguiria passar pela crise, como também bateria recordes de safra e exportação de commodities.
No início da pandemia, em março de 2020, pairava sobre o cenário global, sobretudo os Estados Unidos e a União Europeia, um medo que ocorresse o desabastecimento dos mercados e houvesse uma crise dos sistemas agroalimentares, e por mais que isso de fato tenha ocorrido em alguns locais, esse cenário não ocorreu no Brasil, durante todo o período da pandemia, os produtores não cessaram as suas atividades e mantiveram o fornecimento dos suprimentos demandados pelo mercado.
Isso foi uma prova da resiliência, e ainda um gerador de novas oportunidades de negócios para o setor.
Mudanças ocorridas no Agronegócio durante a pandemia
- Mercado Chinês
Pelo menos nas últimas duas décadas o mercado chinês tem sido um dos maiores compradores dos produtos agrícolas brasileiros, tendo aumentado de US$ 3,2 bilhões em 2000, para US$ 104 bilhões em 2020. Isso se deve pela boa relação comercial sino-brasileira construída nos últimos anos, mas principalmente pelos atritos geopolíticos entre os Estados Unidos e China, que acarretou na procura de novos parceiros comerciais de ambos os lados, e no caso chinês, trocou as suas importações do mercado americano, para o mercado brasileiro.
Com a pandemia, essa relação aumentou ainda mais, por exemplo, somente no complexo soja, a China foi responsável pela compra de cerca de 70% da produção exportada pelo Brasil, outro exemplo, o mercado chinês aumentou as importações do mercado brasileiro em 9,8%, se comparado os dados de 2019 e 2020.
Dessa forma, as perspectivas para essa relação comercial são boas, visto a situação atual chinesa, onde está ocorrendo um aumento da população urbana, juntamente com o crescimento da renda familiar, e com isso, ocorrerá um aumento na demanda por produtos alimentícios, como grãos, carnes e lácteos, o que dificulta a diminuição da dependência chinesa pelos produtos do agronegócio brasileiro, pelos próximos anos, gerando oportunidades de negócios.
- Tecnologias nas Comunicações e Vendas
Um fator que foi acelerado durante o período da pandemia foi a integração de tecnologias de comunicação e vendas ao agronegócio, principalmente nas cooperativas, pequenos e médios produtores. Com o distanciamento social e fechamento de comércios, muitos produtores ficaram desamparados para escoamento das produções e vendas, no entanto, logo surgiram formas para compensar as medidas de isolamento e possibilitar a realização de tais atividades, através de plataformas digitais de vendas, redes sociais, e até mesmo pelo WhatsApp.
Atualmente, é sendo comum, de que os produtores e empresas que não se adequarem e integrarem as tecnologias à sua operação, ficarão em grande desvantagem, tanto no mercado nacional, quanto global.
- Sustentabilidade
A tendência da sustentabilidade já vinha de muito antes da pandemia, no entanto, com a chegada da crise sanitária global juntamente com o aumento das preocupações com as mudanças climáticas, muitos fatores foram colocados a amostra, como uma necessidade por maior segurança alimentar, crescimento na procura pela alimentação saudável, exigência da rastreabilidade na pecuária, redução da utilização de insumos, como também a parada da fronteira agrícola.
A maioria das soluções para esses problemas são encontradas nas tecnologias, por exemplo, através da agricultura de precisão é possível aumentar a eficiência na utilização dos recursos e aumentar a produção sem necessitar do aumento de terra. No caso da rastreabilidade na pecuária, através disso pode-se melhorar a imagem do produto perante o mercado, comprovando as boas práticas ambientais na produção, pois com o aumento do desmatamento ilegal, consumidores internacionais estão exigindo certificados de origem para as carnes. Outro exemplo, são os Créditos de Carbono, que podem ser negociados de forma a equilibrar as emissões de carbono por fábricas e empresas, o Brasil tem um potencial enorme de crescimento neste mercado.
Os consumidores têm se mostrado preocupados com os fatores citados anteriormente, e um ponto importante de se destacar, é que a sustentabilidade empresarial deixou de ser uma vantagem competitiva, atualmente, isso é a regra, e se os produtores brasileiros quiserem manter a posição de liderança do Brasil no setor do agronegócio, é fundamental tratar o assunto como uma prioridade.
Por Erick Dalmo Gunha Basílio
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