Maria Carolina Leão Melo Galli
A notória elevação de preços nos produtos provenientes da pecuária leiteira e de corte tem, nos últimos meses, voltado os olhos do produtor para esse tipo de investimento. Contudo, é preciso pontuar com clareza as vantagens e desvantagens apresentadas pelas atividades, de modo a escolher a que melhor se encaixa para cada caso e a garantir a eficiência e a lucratividade necessárias.
O recorte trabalhado será a bovinocultura, em virtude de sua grande representatividade e tradição na pecuária brasileira. Além disso, a demanda de mercado por esses produtos é mais significativa quando comparada à de ovinos e caprinos, por exemplo, revelando maiores oportunidades de direcionamento e escoamento.
Bovinocultura de corte
Fonte: EMBRAPA
Vantagens
A notória elevação dos preços dos cortes de carne bovina nos últimos anos direcionou os olhares do produtor para esta atividade, cujas cotações atingiram patamares significativos no período.
Possibilidade de exportação
A forte demanda internacional pela carne brasileira, em especial da China, dos Estados Unidos e de países árabes, proporciona ao pecuarista mais segurança para seu escoamento, apesar de, para tanto, ser necessária a aderência a uma série de requisitos de qualidade e manejo, que viabilizem a exportação. Esta vem crescendo fortemente nos últimos meses: aumentou cerca de 32,2% nos primeiros dias de janeiro de 2022, quando comparada ao mesmo período de 2021.
Contratos futuros para proteção de preço
Para o gado de corte, o produtor tem a possibilidade de utilizar o mecanismo de contratos futuros e opções de modo a proteger suas margens de lucro. Desse modo, garante que receberá um valor mínimo suficiente para cobrir seus custos e margens de lucro, e não fica totalmente suscetível às variações de mercado.
Maiores margens
A baixa oferta de animais para abate, sustentada pela contenção do abate de fêmeas para priorizar a geração de crias, pressionou os preços da carne para cima. Tal aumento de preço colaborou para a manutenção das margens mesmo em virtude do aumento dos preços dos insumos, assegurando que o pecuarista mantenha seu lucro.
Desvantagens
Apesar de lucrativa, a bovinocultura de corte enfrenta uma série de desafios para os produtores do ramo, muitas vezes, relacionados aos manejos adequados dos insumos e recursos.
Payback mais demorado
O ciclo de vida do gado de corte dura, em média, de 5 a 6 anos, entre a cria e a terminação. Seu processo de engorda é demorado e custoso para o produtor, que só consegue efetivamente obter lucro com aquele determinado animal após sua venda. Logo, o payback da atividade costuma ser mais demorado quando comparado ao da bovinocultura leiteira.
Nutrição mais custosa
O gado de corte apresenta exigências nutricionais significativas para apresentar bom desempenho e ganhar peso com rapidez, encurtando, assim, seu ciclo de vida e tempo de fazenda. É necessário fornecer concentrado em dose suficiente para engorda adequada, e o produtor que busca bom peso da carcaça deve se atentar a este fato.
Fonte: Hugo Martins, Rehagro
Atenção aos tratos
Uma vez que a alimentação é fator determinante para o bom desempenho, é necessário que se faça um bom manejo da dieta no cocho, fornecendo a quantidade necessária e suficiente para a demanda do boi naquele momento, evitando desperdícios e perdas.
Bovinocultura leiteira
Vantagens
Apesar de sofrer com oscilações de preço e demanda nos últimos tempos, a bovinocultura leiteira é uma boa alternativa para o produtor que consegue se organizar e investir no sentido de otimização da produção, com adoção de tecnologias modernas que proporcionem melhorias na produtividade.
Payback mais rápido
Quando comparada à bovinocultura de corte, a bovinocultura leiteira costuma apresentar payback mais rápido, em virtude da natureza da atividade, que possibilita que o produtor retire o leite do rebanho e comece a comercializá-lo em um intervalo de tempo menor do que o ciclo de vida de um boi de corte. Além disso, o ciclo médio de vida de uma vaca leiteira é, em média, 9 anos, o que possibilita que o pecuarista produza leite por um período prolongado.
Presença de melhoramento genético
O melhoramento genético de bovinos leiteiros é uma prática que vem ganhando espaço no cenário brasileiro, de forma a selecionar as melhores características de produção e adaptação para cada condição. Isso permite a adoção de animais mais produtivos, que, consequentemente, irão incrementar a receita do produtor.
Possibilidade de produção em sistema integrado Lavoura-Floresta-Pecuária
As sombras proporcionadas pelas árvores quando se adota o modelo integrado permite que as vacas tenham maior conforto térmico, fator diretamente relacionado à sua produtividade. A adoção dos sistemas Lavoura-Floresta-Pecuária vem sendo observado como alternativa sustentável ao monocultivo e criação animal tradicionais, proporcionando benefícios para o solo, os micro-climas e o bem-estar animal.
Fonte: Marcos Lopes La Falce
Desvantagens
Apesar de interessante para o produtor, é preciso atentar-se para algumas dificuldades enfrentadas pela produção leiteira, dentro e fora da porteira.
Atenção à alimentação
O rebanho leiteiro é facilmente suscetível a oscilações de produção diárias em virtude de variações na alimentação, logo, a nutrição inadequada é um dos principais fatores de queda no potencial produtivo. É preciso atentar-se ao manejo do pasto, garantindo sua qualidade e a supressão das demandas das vacas.
Dificuldade de exportação
A parte mais significativa da produção de leite no Brasil é voltada ao mercado interno, logo, o produtor fica suscetível às oscilações de preços do mercado nacional.
Mastite
A mastite é uma das principais doenças quando se trata de gado leiteiro, consistindo na inflamação das glândulas mamárias da vaca. A enfermidade compromete a produtividade do animal e demanda o descarte do leite produzido, trazendo grandes prejuízos para o pecuarista.
Em suma, é importante ressaltar que ambas as atividades, com suas individualidades e demandas, podem gerar lucros significativos para o produtor, a depender das características da sua propriedade, da adequação da atividade ao espaço, do nível tecnológico e do cuidado nos tratos.
Referências
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