Alta dos preços assombram margens dos produtores, que tendem a buscar alternativas cautelosas para o mercado doméstico, e explorar o mercado externo em 2022.
É de comum acordo o reconhecimento de todos de que o Brasil é uma máquina na produção de alimentos, tanto no panorama da produção vegetal como na produção animal. Enquanto muitos se dispersam no tempo, a agro brasileiro é capaz de produzir, em apenas 1 minuto, 103.680 ovos, 47.564 litros de leite e abater 11.500 frangos, 52 cabeças de gado e 100 suínos. Esses são dados trazidos pelo Canal Rural em 2021, mas, apesar dos números serem tão relevantes, qual é a realidade do produtor frentes às condições que vêm enfrentando desde o agravamento da pandemia do novo coronavírus? Quais as tendências para 2022 na produção animal?
Apesar do mundo inteiro ver mais um ano se passando com a constante luta contra a pandemia, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), registrou mais um recorde na indústria de proteína animal. Os números reafirmam que a indústria de alimentos no Brasil não parou como em outros países.
No mercado interno houve diminuição do consumo de carne bovina por conta de seu preço, fato que levou as pessoas a consumirem mais frango, suínos e ovos. Embora novos recordes tenham sido alcançados por esses ramos, a rentabilidade ficou estreita por causa da alta no custo de produção.
Em 2021, houve um aumento superior a 100% nos custos com produtos fitossanitários e fertilizantes, para as culturas como do milho e soja. No entanto, a tendência é que em 2022 as margens apertadas devam continuar amargando a vida do produtor e fazendo-o se reinventar para driblar os gargalos na cadeia produtiva.
- Bovinocultura de corte
Na pecuária de corte, a alta dos preços continuará assombrando as margens do produtor, que já vêm enfrentando dificuldades desde o ano passado com o embargo chinês. O volume exportado e a receita diminuíram em 43% e 31%, respectivamente. O consumo doméstico esfriou com a alta nos preços devido à falta de animais para abastecer o mercado interno. A principal causa do enfraquecimento foi em virtude do ciclo pecuário e falta de chuvas nos polos produtores.
Entre o aumento do preço da arroba e da oferta de bezerros, o período se caracteriza pela transição do ciclo pecuário. O bezerro permanece acima do valor médio dos últimos dois anos, o que leva à retenção de fêmeas, aumentando a produção de bezerros e sua oferta a recriadores. Apesar do aumento da oferta que virá em 2022, os custos de reposição devem abaixar somente em 2023. A consequência disso é que faltarão vacas para abate e abastecimento do mercado doméstico. A tendência é que as indústrias busquem por bois, que estão com a arroba valorizada em virtude de sua demanda aquecida no mercado externo.
Desse modo, pode-se afirmar que as exportações tendem a aumentar para esse ano, com Ásia em primeiro plano, e a China como principal parceiro comercial. O consumo interno continuará restringido e as mudanças na mesa dos brasileiros permanecerão as mesmas, sendo o consumo de carne bovina a menor em 25 anos.
- Bovinocultura leiteira
Assim como em outras áreas da produção animal, os altos custos de produção e o baixo preço pago ao produtor, trazem um comportamento de cautela. Por esses fatores, o ano de 2022 se iniciou com a produção pouco incentivada. Diante dos preços elevados no mercado global, as exportações se mostram interessantes para o escoamento da produção. O contexto resultou numa baixa disponibilidade de leite per capita em relação ao ano interior, no entanto, com a oferta limitada, a demanda também iniciou o ano em baixa.
Para o segundo semestre espera-se uma reação forte no preço do leite. A partir de abril, o recuo no valor do milho (12%), elevará significantemente a RMCR (Receita menos custo da ração). Dados obtidos pelo Cepea levam em consideração um aumento entre 40 e 45 centavos na média recebido pelo produtor.
- Suinocultura
A pressão pela alta dos custos, acentuada, principalmente no último mês, como consequência da guerra em território ucraniano, vem fazendo com que produtores de suínos reduzam suas ofertas, na tentativa de elevar os preços de comercialização e assim reduzir os prejuízos que se acumulam desde 2020. Entretanto, existe grande dificuldade por parte dos produtores de repassar a alta no preço pago, uma vez que o produto é tido como intermediário. Nesse contexto, os consumidores acabam recorrendo à carne de frango.
O custo de produção com o aumento exorbitante dos grãos, decolou, e fez com que produtores reduzissem a quantidade de matrizes e, consequentemente o seu plantel. Muitos produtores encontram problemas financeiros de fazer a reposição de seus animais.
Sendo assim, com o prejuízo de aproximadamente R$1,10 por quilo de carne, a tendência é que muitos produtores reduzam o plantel e que até muitos deixem o ramo de lado, partindo para atividades que dêem retorno.
- Avicultura
Os produtores de aves encontram os mesmos entraves no custo de produção, que por sua vez, tende a ser repassado aos valores de venda do animal vivo. Entretanto, devido a conjuntura macroeconômica, estimativas do USDA apontam que 50,8% do consumo de carne no Brasil em 2022, será exclusivamente de frango. A demanda é favorecida pelo baixo crescimento econômico (avanço de apenas 0,36% no PIB em 2022), e do consequente menor poder aquisitivo por parte da população.
Dessa forma, a ABPA e a USDA apontam incrementos na produção e consumo da proteína, que giram entre 2,6 e 4,5% e 2,4 e 4,0%, respectivamente. As vendas ao mercado internacional estarão aquecidas pelo valor do câmbio, o que atrai o produtor a investir no mercado externo. A produção de ovos deve seguir a mesma tendência, com um aumento de aproximadamente 3% na produção, chegando a 56,2 bilhões de unidades.
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